terça-feira, 6 de novembro de 2012

Uma Ilha

   "Havia uma menina, e seu tio a vendera, escrevia o senhor Ibis com sua caligrafia perfeita para uma placa de condecoração em cobre.
   Esta é a história; o resto é detalhe.
   Existem relatos que, se abrirmos nosso coração a eles, vão nos ferir muito profundamente. Olhe - aqui está um homem bom, bom de acordo com seu próprio ponto de vista e com o de seus amigos: é fiel e sincero para com a esposa, adora seus filhinhos e passa o maior tempo possível com eles, preocupa-se com seu país, faz seu trabalho pontualmente, da melhor maneira que pode. Então, com eficiência e boas intenções, extermina judeus: ele aprecia a música de fundo que toca para acalmá-los; adverte os judeus para que não esqueçam seus números de identificação quando vão para o banho - muitas pessoas, ele explica, esquecem seus números e pegam roupas erradas quando saem do banho. Isso acalma os judeus. Haverá vida, eles se asseguram, depois do banho. Nosso homem supervisiona os detalhes de levar os corpos até os fornos; e, se há alguma coisa que faz com que ele se sinta mal, é ainda permitir que a exterminação da gentalha com gás o afete. Se fosse um homem verdadeiramente bom, ele sabe, não sentiria nada além de alegria por ver a terra livre de suas pestes.
   Havia uma menina, e seu tio a vendera. Colocado assim, parece tão simples.