quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Mirror 1 - Reflexões rápidas

"Sentada no trono de espelhos, ela espera. Em seu reino de espinhos, o vento sopra. Onde ele a levará agora? Pouco resta de suas terras devastadas afinal, pouco além das cinzas que o fim dos mundos deixou para trás. Ela traga a Morte para dentro de si, suturando a ferida em seu orgulho. Fragmentos pontudos rasgam seus pulsos quando o ódio, trancafiado nos confins mais obscuros de seu peito, lhe obriga a apertar o vidro rachado, semicerrando os olhos encharcados, e seu sangue jorra no reflexo dantesco. Ela está em fúria, enfrentando pura e simples dor inimaginável. Por que não se parte de uma vez? Por que seu coração insiste em bater? O que há de errado?
A menina, garota, mulher, ergue-se e caminha por entre o jardim, perfurando seus pés a cada passo e deixando um rastro de si para trás. Nenhuma lágrima cai. Na imensidão não há vida ou esperança, nada que possa guiá-la. Ela não precisa, atingira seu objetivo de uma forma ou de outra, e o que tinha em mãos não era nada mais do que a promessa de um futuro, porém um futuro vazio. Um futuro vermelho, cinza e preto.
Há guerra por toda a parte, esta é a verdade. Guerras incessantes rasgando seu passado e seu presente, sua alma podre. As labaredas que nunca se apagam, devorando, consumindo, tudo que um dia ela fora ou que lhe pertencera. Tudo. Uma vida, uma morte. 

Contradizendo expectativas e possibilidades... a criança sente o desejo ardente de erguer seu sussurro num grito.
Não, sua pequena guerra pessoal ainda não chegou ao fim. Algo também a espera.

O vento outra vez ressoou num assobio musical. O som, entretanto, provinha dos lábios de Cedric, junto à porta do salão principal. Ele a fitava com um sorriso tímido, porém venenoso, o bastardo infiel...
- Tente não se perder, Irium... – Cedric deu meia volta e partiu para o corredor.
Ela esfrega os olhos, suspirando, e segue com ele arrastando seus pés, sonolenta. Em que estava pensando mesmo?"