quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Devaneios de uma escritora

"Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Certo, referente a matéria é uma ideia bem fácil de se compreender. Mas vamos esquecê-la por enquanto, pois a linha de pensamentos com a qual escrevo estas palavras não está ligada a questões puramente físicas. Aliás, nenhuma das minhas linhas de pensamento é assim.

Dizem que tudo chega ao fim. A morte para a vida, até o desgaste do que não é vivo, o tempo para lembranças ou sentimentos. Um ponto de vista muito fatídico e cruel que só desanima a fazer qualquer coisa que seja. Ponto de vista? Eu considero assim, pode ser analisado de outras formas... Esta eu não suporto. Se é verdade, talvez seja, o que não torna menor meu desagrado. Saber é diferente de aceitar.
Revirei minha cabeça sobre isso de fim diversas vezes, optando em muitas delas por ignorar tais pensamentos, em prol do meu bem-estar. Uma hora ou outra, porém, sempre vinha exigir espaço. Recolhi meia dúzia de livros e fui me distrair. No meio de alguns trechos, desviava-me sem querer.
Talvez você, um leitor atento,perceba que não raro nos pegamos tão presos à leitura que damos a ela vida própria em nossa mente. As palavras furtivamente voam do papel para o fundo de nossos pensamentos e criam novas ideias, antes mesmo que percebamos as intrusas. Esta é, sem dúvida, a maior magia da leitura e da escrita: unir numa só linha de pensamentos as ideias de quem escreve e quem lê.
Desta forma, talvez não seja tanta insanidade minha pensar que cada escritor - morto ou vivo - tem um pedaço de si depositado naquele que lê sua obra. É algo parecido, eu acho, com a polinização. O papel serve então como o vento ou as borboletas, até encontrar uma nova mente para reproduzir as ideias. Ideias podem ser imortais, e elas não deixam de ser parte de quem as gerou, uma espécie de imortalidade para eles também.


Parece-me um bom legado para deixar no mundo, não?

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Mal Secreto, de Raimundo Correia


"Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!"