Durante esta tarde, comecei a escrever um texto que, a princípio, devia ser pequeno e feliz, alguns pensamentos meus na mente de uma personagem sem nome. Aos poucos, tais pensamentos tomaram novas proporções e a narração foi seguindo e... bem, aqui está.
"Na mesa da pequena cafeteria, ela observava o movimento da metrópole. Gostava de ver os jovens agitados, rindo em pequenos bandos ou casais bêbados em endorfina. Mas não queria ser um deles. Era bem melhor apenas observá-los.
"Na mesa da pequena cafeteria, ela observava o movimento da metrópole. Gostava de ver os jovens agitados, rindo em pequenos bandos ou casais bêbados em endorfina. Mas não queria ser um deles. Era bem melhor apenas observá-los.
- Com licença, o que vai querer? – um rapaz de sorriso meigo veio atendê-la.
- Ah, er... – ela fitou o cardápio sobre a mesa, não tinha pensado nisso – Bem, pode me trazer o café mais simples que tiver? – e sorriu um pouco constrangida.
No fundo, não queria beber ou comer nada. O rapaz deu outro sorriso, guardando a caderneta sem nada anotar, e voltou para dentro. Por um instante ela imaginou que talvez ele pudesse entendê-la.
As pessoas continuavam andando de um lado para outro, pela calçada do outro lado da rua, e outras poucas contornavam as mesas da cafeteria, porém ela apenas pensava nele, triste por não ter lhe dado muita atenção. Era alto, certo? Seu cabelo loiro e molhado, e os olhos castanhos emanavam a esperança de um sonhador. Em seus lábios finos estava um sorriso sincero e gentil, e sua pele era bem clara, característica que dava um aspecto ainda mais angélico. O rapaz lembrava-lhe alguma coisa perdida dentro do peito, uma palavra que seu coração esquecera e que agora lhe fazia estar exatamente onde estava, pensando no que pensava, divagando sobre muito além de um simples garoto.
Ela olhou para o balcão, por sobre o ombro. Ele ria de alguma conversa com uma mulher de mais ou menos quarenta anos, que supôs ser sua superior. Também pode assim confirmar a descrição que sua mente tinha elaborado, confessou o exagero em uma ou duas características, mas era de fato um bondoso e belo rapaz. Por que não se apaixonava por ele? Podia dedicar-se àquele sorriso tão belo durante anos e anos, e vê-lo amadurecer sábio e feliz. Poderiam ser felizes, parecia tão simples. Entretanto, não era uma ideia real e ela sabia. Ela não queria ser responsável por todas as coisas pelas quais ele ainda teria de passar para amadurecer, ela nem sequer queria que ele amadurecesse. Seu sorriso jamais seria o mesmo e ela não mais o amaria.
Os olhos da garota encheram-se de lágrimas que ela sufocou, porque não devia chorar sorrindo. Porque o tempo passa e infelizmente as pessoas crescem, os sorrisos mudam, a felicidade muda. E o amor muda. Somente a dor sempre parece a mesma, forte e incontrolável, se esvaindo aos poucos e deixando um rastro de lembranças amargas.
- Aqui está seu café, tudo bem com você? – o rapaz pôs a xícara sobre a mesa e uma mão sobre o ombro dela, preocupado.
- Sim, tudo bem. – ela enxugou as lágrimas depressa e tirou uma nota que valia muito mais que o café, uma gorjeta ou qualquer um dos aperitivos no cardápio.
Deixando-a em cima da mesa, levantou-se e levou a xícara, despedindo-se do garoto. Os passos eram apressados, as lágrimas também, e ambos só cessaram depois de vários metros para uma direção que não importava. Ela agora ria consigo mesma e repetia que não devia pensar naquelas coisas. Pouco tempo lhe restava. Continuando a andar, bebeu o delicioso café e agradeceu ter conhecido alguém novo uma última vez.
A xícara despedaçou-se ao cair no chão.
Daniel, que falava para sua gerente sobre uma garota e um café, sentiu uma tontura inexplicável percorrer seu corpo e teve de sentar-se para não desmaiar. Várias pessoas na calçada da frente olhavam para algo mais a direita da cafeteria, espantadas e curiosas, ele não entendeu o que estava acontecendo.
Havia uma jovem no chão, e uma alma sorrindo."
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