Eu queria atenção especial de vocês para essa pequena história. Na verdade, é um dos meus projetos para um livro, então gostaria que comentassem se são a favor de uma continuação. Sua opinião é muito bem-vinda! Ah, como podem perceber, ainda não tem nome...
O desespero quase incontrolável de Alef era bem visível em seus olhos cinzentos, o coração estava a ponto de rasgar seu peito. Trêmulo, experimentava uma sensação antes desconhecida: medo. Ele nunca se permitira temer, tinha um plano para cada situação, tinha sempre controle sobre tudo. Exceto naquele instante, olhando para as lágrimas de sua irmãzinha na mira de um revólver. Joe Silc era um verdadeiro assassino que só ainda não atirara pela utilidade óbvia da garotinha como escudo humano. Nunca devia ter permitido que ela soubesse dos negócios com Ivan. A única menina que amava de verdade, de uma forma pura e incondicional! Queria apenas vê-la sorrir, como costumava fazer nos passeios pela praça da cidade; como quando deu a ela um coelho no seu aniversário passado; como durante o inverno, onde eles mais pareciam crianças de neve...
- Alef! - Ivan chamava-o, ao seu lado, impaciente.
Quanto mais tempo ficassem ali, mais vulneráveis estavam a um novo ataque. Ivan Krowless não admitia erros e pouco se importava com a vida da garota. Porém sua conexão com Alef era importante para conseguir seus objetivos, então deu o papel da escolha ao rapaz, do contrário já teria tirado a arma da calça e acabado com aquilo de uma só vez.
Acho que vergonha, medo e culpa são as melhores palavras para descrever como Fleur se sentia. Uma flor prestes a ser despedaçada. Tinha apenas 11 anos e já se considerava um completo incômodo. Na semana passada, implorou para ajudar e agora, graças ao seu descuido, era refém do inimigo. Mais que isso, dependia de Alef, quando tanto quisera mostrar-se madura o suficiente para cuidar de si. Um erro comum, ela devia saber. E o semblante dele... sua mente fervia em busca de uma escapatória segura para todos. Fleur respirou profundamente, não podia ser apenas a "mocinha em perigo" como tantas outras que via nos filmes. Precisava agir.
Uma ideia veio-lhe a mente. Pisou no pé de Joe, que, num grito, a empurrou instintivamente, mas não antes dela virar-se e dar-lhe um soco. O empurrão a derrubou, uma oportunidade perfeita para seus companheiros agirem. Enquanto se erguia, uma sensação correu-lhe forte pelas veias como uma descarga elétrica muito rápida. Os olhos arregalaram-se, terror. Ela sabia o que ia acontecer.
-Aleeeeeeeeeeef! - gritou, tarde demais, como sempre.
Dois tiros foram disparados. Fleur olhou para trás. Joe apontava a arma para frente, seus olhos eram vazios, havia um buraco na testa. Não tardou a cair, sem vida. Olhou então para frente. Mesmo que não quisesse confessar para si mesma, torcia para que a outra bala tivesse atingido Ivan, para que todo aquele pesadelo terminasse. Ivan realmente estava na mesma posição que Joe, seus olhos também eram vazios, entretanto era só o vazio costumeiro dele, sem qualquer vestígio de emoção. Mas não tinha ferimentos. Fleur baixara o olhar, sabendo que não queria ver. O garoto de cabelos brancos e vestes igualmente impecáveis, como as dela mesma, exceto por uma mancha vermelha que não devia estar ali...
-Não... - murmurou, engatinhando para junto dele, virando-o e pondo a cabeça dele em seu colo - Não, não, não!
Banhava-se nas próprias lágrimas, apertando-o contra si. Afundou sua cabeça no corpo do garoto, aquilo não podia estar acontecendo, era tudo um pesadelo. Porém nunca mais ouviria qualquer palavra de seu amado irmão... A morte parecia ter lançado um véu de consolo sobre os dois que a impedia de entrar em pânico, consequentemente tornando mais intensa a triste realidade.
Mais uma vez Ivan era cercado por um muro impenetrável que já fazia parte de sua natureza. Nada sentia. Claro que a perda de alguém como aquele rapaz, cuja inteligência o ajudou muitas vezes, era significante. Mas não havia tristeza para ele. Continuou a observar os gêmeos, duas pequenas crianças cujas mentes mais avançadas que o normal fundiam-se com a inocência infantil.
9 anos depois
Domingo. Um mar de nuvens negras cobria o céu. O sol não quis aparecer de maneira alguma. Espíritos - ou o que quer que fossem - caminhavam por cada rua, cada construção de Damian. Eram 8 horas da manhã. Uma garota de cabelos brancos observava a cidade morta. Imaginou se os pesares dela resolveram se manifestar no clima. Hoje os dois teriam 20 anos...
sexta-feira, 29 de abril de 2011
sábado, 23 de abril de 2011
Pequenas Histórias 2: Pensamentos de Mary
Eu não sei como essas coisas me vem na cabeça, simplesmente me dá vontade de escrever um texto e eu não hesito em pôr o que conseguir no papel. Este nasceu durante uma aula, quando eu recordava minha infância. Lembrei das histórias que meus pais contavam, em especial sobre três "quase-afogamentos" meus. Bem, vamos lá...
Meu lugar favorito em Damian sempre foi a enorme ponte que anunciava a entrada da cidade. Era velha, firme, escurecida e gelada. Apenas a lua iluminava aqueles que passavam por ali. Chegava a ser irônico um lugar tão morto e obscuro como entrada de uma cidade tão cheia de vida e iluminada por um punhado de cores ofuscantes em todos os lados. Mas, para mim, sobre a ponte tinha-se a melhor visão de Damian: olhando para trás, todo o cenário do mundo moderno; olhando para frente, a natureza fechada e intocada, guardando segredos que muitos preferiam não saber. Ainda em baixo, a tranquilidade do rio, com leves movimentações causadas pelo vento. Fitava-o tanto, por longas horas, que até podia imaginar-me flutuando sobre a água. O ria me chamava. Minhas experiências com rios, açudes e piscinas nunca foram as melhores, porém nunca perdi meu fascínio por mergulhos, mesmo lembrando perfeitamente de todos os momentos submersa... Mais que completa escuridão ou luz, a água envolve todo meu corpo e logo começa a pressioná-lo. O ar escapa, desespero libera-se por minhas veias, travo uma guerra pela sobrevivência, entretanto não há onde me apoiar. O rio continua puxando-me para baixo enquanto invade meu corpo Alguém, por favor, me ajude. Não há ninguém para me ouvir. Não sei se estou chorando, pois banho-me num mar de lágrimas...
Então acordei, afastando-me subitamente da beirada da ponte, respirando rápido. Já chega, hora de voltar para a realidade.
Mortais Lembranças D'água
Meu lugar favorito em Damian sempre foi a enorme ponte que anunciava a entrada da cidade. Era velha, firme, escurecida e gelada. Apenas a lua iluminava aqueles que passavam por ali. Chegava a ser irônico um lugar tão morto e obscuro como entrada de uma cidade tão cheia de vida e iluminada por um punhado de cores ofuscantes em todos os lados. Mas, para mim, sobre a ponte tinha-se a melhor visão de Damian: olhando para trás, todo o cenário do mundo moderno; olhando para frente, a natureza fechada e intocada, guardando segredos que muitos preferiam não saber. Ainda em baixo, a tranquilidade do rio, com leves movimentações causadas pelo vento. Fitava-o tanto, por longas horas, que até podia imaginar-me flutuando sobre a água. O ria me chamava. Minhas experiências com rios, açudes e piscinas nunca foram as melhores, porém nunca perdi meu fascínio por mergulhos, mesmo lembrando perfeitamente de todos os momentos submersa... Mais que completa escuridão ou luz, a água envolve todo meu corpo e logo começa a pressioná-lo. O ar escapa, desespero libera-se por minhas veias, travo uma guerra pela sobrevivência, entretanto não há onde me apoiar. O rio continua puxando-me para baixo enquanto invade meu corpo Alguém, por favor, me ajude. Não há ninguém para me ouvir. Não sei se estou chorando, pois banho-me num mar de lágrimas...
Então acordei, afastando-me subitamente da beirada da ponte, respirando rápido. Já chega, hora de voltar para a realidade.
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Um tempo meu - 3º parte
"O semáforo mostra, orgulhoso, a sua luz vermelha. Os carros passam apressados. As pessoas continuam com a expressão de mesma coisa. Aí penso que em algum lugar do mundo acaba de nascer uma criança. Talvez essa criança venha a se tornar muito sábia e venha a escrever um livro que, no futuro, seja lido por muitas pessoas, em todas as partes do mundo. Até aquelas que eu nem sei o nome. Um menino escritor como Machado de Assis ou Shakespeare. Escreveria um livo que ensinasse as pessoas a se olharem e a sorrirem nos dias de chuva. Então o semáforo ficou verde e eu atravessei a rua e segui em frente."
Landeira, J. L; Baronto, L. E. O tempo em gêneros. São Paulo: Salesianas, 2008.
domingo, 17 de abril de 2011
Um tempo meu - 2º parte
"Claro, de repente sou obrigado a olhar para o chão. Ou olhar em frente. Olhar em frente obriga-me a ver as pessoas apressadas, com expressão do mesmo no olhar, caminhando não interessa a ninguém para onde a não ser para elas mesmas. Talvez nem para elas lhes interesse. Uma delas passa e cospe no chão. Que coisa mais desagradável!
Mas eu ando devagar, não vou deixar que a pressa dos outros contamine o meu passeio. Eu preciso filtrar tudo ao meu redor, alimentar-me do que vejo, respirar tudo, deixar o tempo pulsar em mim. As paredes, com a umidade da chuva, parecem ter as cores reforçadas. Como se fossem cores mais vivas, até o ar parece ficar mais vivo. Então, as cores vivas das paredes das casas, do chão molhado, das plantas, sei lá... até dos guarda-chuvas das pessoas apressadas, dos carros na rua respingando água suja nos outros, de tudo, enfim, contrasta com o céu cinza e frio. Nesse momento eu gosto de andar pela rua. Eu ando pelo mundo, devagar, naquele instante. Há música dentro de mim..."
Mas eu ando devagar, não vou deixar que a pressa dos outros contamine o meu passeio. Eu preciso filtrar tudo ao meu redor, alimentar-me do que vejo, respirar tudo, deixar o tempo pulsar em mim. As paredes, com a umidade da chuva, parecem ter as cores reforçadas. Como se fossem cores mais vivas, até o ar parece ficar mais vivo. Então, as cores vivas das paredes das casas, do chão molhado, das plantas, sei lá... até dos guarda-chuvas das pessoas apressadas, dos carros na rua respingando água suja nos outros, de tudo, enfim, contrasta com o céu cinza e frio. Nesse momento eu gosto de andar pela rua. Eu ando pelo mundo, devagar, naquele instante. Há música dentro de mim..."
Landeira, J. L; Baronto, L. E. O tempo em gêneros. São Paulo: Salesianas, 2008.
terça-feira, 12 de abril de 2011
Um tempo meu - 1º parte
Achei esse texto no meu livro de Ensino Religioso. Eu nem gosto dessa matéria, minha escola é católica e acaba transformando em "Ensino Católico". Para pessoas que não são dessa religião é bem desconfortável ter que tirar nota boa nela, mas é a melhor escola da área, então... O texto é um tanto comprido, como já devem ter notado, separei em algumas partes para postar aos poucos.
"Um tempo meu
Eu ando pela rua, observo as pessoas que passam apressadas perto de mim. Sim, perto de mim, mas não me enxergam. Bem, a grande maioria delas não me enxerga... É quase como se eu não existisse. É quase como se eu não existisse para elas. Apressadas, sempre apressadas. Os carros... As pessoas... Quem iria reparar em mim? Ainda mais em dia de chuva! As pessoas passam, guarda-chuvas abertos, apressadas, indo correndo para algum lugar. Elas não querem saber quem eu sou, o que eu penso, por que caminho devagar pela rua molhada. Pela rua, não; pela calçada. Os carros passam, rostos cansados dirigem apressados, mesmo quando andam devagar, por causa do trânsito lento, estão apressados e nós, do lado de fora, apenas temos de desviar dos respingos das águas das poças que os carros espalham ao passar. No rosto de todos que passam, uma expressão do mesmo, como se fossem para o mesmo lugar. Ou para lugar nenhum.
Caem umas gotas preguiçosas do céu e eu imagino-me naqueles filmes em que tudo acontece em câmera lenta, muito devagar. É assim: eu levanto os olhos para o céu e vejo a chuva caindo, o meu guarda-chuva protege-me um pouco e o desenho cinza das nuvens no céu facilita a sensação de estar tudo parado, tudo parado menos a chuva que cai, em câmera lenta. Eu, muito longe de todas as pessoas, na verdade, eu muito longe de tudo, apenas, talvez, isso quando olho o céu e a chuva caindo, eu, talvez, apenas dentro de mim..."
"Um tempo meu
Eu ando pela rua, observo as pessoas que passam apressadas perto de mim. Sim, perto de mim, mas não me enxergam. Bem, a grande maioria delas não me enxerga... É quase como se eu não existisse. É quase como se eu não existisse para elas. Apressadas, sempre apressadas. Os carros... As pessoas... Quem iria reparar em mim? Ainda mais em dia de chuva! As pessoas passam, guarda-chuvas abertos, apressadas, indo correndo para algum lugar. Elas não querem saber quem eu sou, o que eu penso, por que caminho devagar pela rua molhada. Pela rua, não; pela calçada. Os carros passam, rostos cansados dirigem apressados, mesmo quando andam devagar, por causa do trânsito lento, estão apressados e nós, do lado de fora, apenas temos de desviar dos respingos das águas das poças que os carros espalham ao passar. No rosto de todos que passam, uma expressão do mesmo, como se fossem para o mesmo lugar. Ou para lugar nenhum.
Caem umas gotas preguiçosas do céu e eu imagino-me naqueles filmes em que tudo acontece em câmera lenta, muito devagar. É assim: eu levanto os olhos para o céu e vejo a chuva caindo, o meu guarda-chuva protege-me um pouco e o desenho cinza das nuvens no céu facilita a sensação de estar tudo parado, tudo parado menos a chuva que cai, em câmera lenta. Eu, muito longe de todas as pessoas, na verdade, eu muito longe de tudo, apenas, talvez, isso quando olho o céu e a chuva caindo, eu, talvez, apenas dentro de mim..."
Landeira, J. L; Baronto, L. E. O tempo em gêneros. São Paulo: Salesianas, 2008.
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