domingo, 17 de abril de 2011

Um tempo meu - 2º parte

 "Claro, de repente sou obrigado a olhar para o chão. Ou olhar em frente. Olhar em frente obriga-me a ver as pessoas apressadas, com expressão do mesmo no olhar, caminhando não interessa a ninguém para onde a não ser para elas mesmas. Talvez nem para elas lhes interesse. Uma delas passa e cospe no chão. Que coisa mais desagradável!

 Mas eu ando devagar, não vou deixar que a pressa dos outros contamine o meu passeio. Eu preciso filtrar tudo ao meu redor, alimentar-me do que vejo, respirar tudo, deixar o tempo pulsar em mim. As paredes, com a umidade da chuva, parecem ter as cores reforçadas. Como se fossem cores mais vivas, até o ar parece ficar mais vivo. Então, as cores vivas das paredes das casas, do chão molhado, das plantas, sei lá... até dos guarda-chuvas das pessoas apressadas, dos carros na rua respingando água suja nos outros, de tudo, enfim, contrasta com o céu cinza e frio. Nesse momento eu gosto de andar pela rua. Eu ando pelo mundo, devagar, naquele instante. Há música dentro de mim..."


Landeira, J. L; Baronto, L. E. O tempo em gêneros. São Paulo: Salesianas, 2008.

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