"Um tempo meu
Eu ando pela rua, observo as pessoas que passam apressadas perto de mim. Sim, perto de mim, mas não me enxergam. Bem, a grande maioria delas não me enxerga... É quase como se eu não existisse. É quase como se eu não existisse para elas. Apressadas, sempre apressadas. Os carros... As pessoas... Quem iria reparar em mim? Ainda mais em dia de chuva! As pessoas passam, guarda-chuvas abertos, apressadas, indo correndo para algum lugar. Elas não querem saber quem eu sou, o que eu penso, por que caminho devagar pela rua molhada. Pela rua, não; pela calçada. Os carros passam, rostos cansados dirigem apressados, mesmo quando andam devagar, por causa do trânsito lento, estão apressados e nós, do lado de fora, apenas temos de desviar dos respingos das águas das poças que os carros espalham ao passar. No rosto de todos que passam, uma expressão do mesmo, como se fossem para o mesmo lugar. Ou para lugar nenhum.
Caem umas gotas preguiçosas do céu e eu imagino-me naqueles filmes em que tudo acontece em câmera lenta, muito devagar. É assim: eu levanto os olhos para o céu e vejo a chuva caindo, o meu guarda-chuva protege-me um pouco e o desenho cinza das nuvens no céu facilita a sensação de estar tudo parado, tudo parado menos a chuva que cai, em câmera lenta. Eu, muito longe de todas as pessoas, na verdade, eu muito longe de tudo, apenas, talvez, isso quando olho o céu e a chuva caindo, eu, talvez, apenas dentro de mim..."
Landeira, J. L; Baronto, L. E. O tempo em gêneros. São Paulo: Salesianas, 2008.
Um texto em buca de uma quase razão existencial ou somente solidão derivada do tempo.
ResponderExcluirEu votaria na solidão derivada do tempo. Já me encontrei assim várias vezes.
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