sexta-feira, 7 de março de 2014

Olhem só, uma historinha!

Então, apesar do que foi dito durante a atualização, eu vou sim continuar a postar (também) todas as histórias que conseguir fazer. Tenho um bocado acumuladas em pastas e na área de trabalho, que escrevi durante o último ano e por esquecimento ou qualquer outra coisa acabei não postando. Aqui vai uma.

" uma poeira branca sobre minhas pálpebras. Eu pisco e ela começa a cair. Manchas. Sinto um gosto forte na língua, vermelho, um gosto de reconhecimento mais instintivo do que consciente. O resto não sou eu.

Meus lábios se movem, ardem como agulhas, milhares de agulhas em linhas furando e puxando. Ardem em branco. E eu digo alguma coisa, mas não sou eu.

'Não... devia...'

Aquilo, o que deveria ser eu, eu, não tenho ar. Os pulmões se esmagam e tentam voltar a se encher, mas o que os preenche é vazio. O ar está vazio.

A mancha se move com a poeira branca e eu vejo um tom de cor estranho, uma cor clara que, no entanto, está escura demais. Como quando se tenta ver algo claro no escuro. Mas há um rosto que me traz luz, é dele que vem a poeira branca. Ele está chorando sobre minha face, não consigo distinguir seus olhos, boca ou quaisquer detalhes, apenas sinto o toque molhado de suas pequenas e constantes gotas de água.

'Me desculpe...'

Eu peço desculpas, mas não sei pelo que me desculpo. Algo importante que eu esqueci, assim como esqueci o rosto que chora. As batidas de meu coração explodem mais luz cegante em minha mente, e a visão é manchada pela poeira branca molhada de lágrimas.

Estou flutuando numa realidade que perdi, com uma dor tão profunda e aguda como um grito que não me deixa pensar que estou morrendo.

...

Vou embora.

...

Acordei na mesma cama, no mesmo quarto, no mesmo lugar, com a dor de cabeça mais ferrada que já senti. Lembro ter sonhado com algo que não devia esquecer, mas as memórias se vão como folhas de outono, carregas pela fadiga e a desesperança que apenas volta com o nascer do sol. Os sonhos foram dormir e a janela se abre pra um mundo que segue sem saber para onde, e eu apenas vou com ele.

Há um rosto em manchas que dói em algum canto desconhecido de mim. Deve ser um sintoma psicológico de alguma passagem estranha de pensamentos que tive durante a noite. Ele não irá me deixar em paz tão cedo, mas a melhor opção é ignorá-lo até que finalmente parta.

Se ao menos ele não voltasse na noite seguinte."

Nenhum comentário:

Postar um comentário